Anacrônicas / Arroubos poéticos

A mão que balança o berço

A mão que, um dia,

 

Operou o torno mecânico

Empunhou a bandeira dos trabalhadores

Brandiu o microfone contra corruptos e corruptores

Aplaudiu o movimento popular

 

É a mesma mão que, anos mais tarde,

 

Aparou barba, cabelo e discurso

Assinou uma certa Carta ao Povo Brasileiro

Afagou a cabeça do mercado financeiro

Espalmou as costas dos outrora desafetos políticos

Lavou-se das indicações e amigos que pela vida deixou

 

E, hoje, cumprimenta a velha raposa

A quem acaricia enquanto (e em quanto) lhe deseja apunhalar

 

Talvez tenha chegado a hora

De essa mão se aposentar

Postar-se à janela

E de lá, quando muito, acenar

Ao ver a banda passar

 

Para que a República Democrática que ela própria um dia cortejou

Possa se reencontrar e refazer-se do golpe que levou

Nos caminhos pelos quais se enfraqueceu

Quando na soberba tropeçou

4 thoughts on “A mão que balança o berço

  1. Chris, estou impressionada com teu estlio de escrita. Quanto talento escondido!!!! Voce faz poesia com ideologia!!! Amei.
    Por favor continue escrevendo!!!
    Beijo, Ahuva

    • Que delícia, Ahuva! Suas palavras, para além da generosidade e gentileza, servem como um grande estímulo para que eu alimente essa que é uma grande paixão e que me faz tão bem. Muito obrigada! Beijos, Chris

    • Adorarei ter sua companhia por aqui, Tati! Desenvolveremos juntas, pelas ondas virtuais, nossa paixão pelas palavras – lidas e escritas! 😉 Muito obrigada pelo carinho! Beijos, Chris

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